domingo, 17 de abril de 2011

RENASCIMENTO E MEDIDA VELHA

O Renascimento A Medida Nova O Renascimento – Conceito e âmbito O Renascimento foi um dos períodos mais férteis da cultura ocidental: Dante, Camões, Petrarca, Shakespeare, Rabelais, Ronsard, Cervantes, Tasso, Ariosto, Michelangelo, Da Vinci alinham-se como as mais portentosas figuras da arte de todos os tempos. É um período marcado pela supervalorização do homem, pelo antropocentrismo, pelo hedonismo: em oposição ao teocentrismo, misticismo e ascetismo medievais. O interesse pelo homem e pelo que ele pode realizar de alto, profundo e glorioso (Humanismo) inspira o conceito de homem integral, senhor do mundo, sequioso para conhece-lo totalmente. Características centrais do Renascimento · Equilíbrio e harmonia de forma e fundo. Clareza, mentalidade aberta, intensidade vital, ímpeto progressista, euforia, ânsia de glória e perenidade, apreço pelo humano. · Universalismo, apego aos valores transcendentais (o Belo, o Bem, a Verdade, a Perfeição) e aos sistemas racionais; simplificação por lucidez técnica., simetria. · Culto da Antiguidade Greco-Latina. Deuses pagãos usados como figuras literárias e claras alegorias. O Renascimento português O Renascimento em Portugal corresponde ao período apogeu da Nação, cujo império, à semelhança do império inglês do século XIX, abrangia do Oriente (China, Índia) ao Ocidente (Brasil), e marca, com Camões, a plena maturação da língua portuguesa. Sob o reinado de D. Manuel, o Venturoso, Portugal gozou de momentânea mas intensa euforia, graças a grandes cometimentos: descoberta do caminho marítimo para as Índias, empreendida por Vasco da Gama em 1498; descobrimento do Brasil em 1500; conquista de Goa e de regiões da África entre 1507 e 1513; Viagem de Circunavegação realizada por Fernão de Magalhães entre 1519 e 1520. Destes fatos sobrevém uma extraordinária prosperidade econômica: Lisboa transforma-se num importante centro comercial; na Corte impera o luxo desmedido, na certeza de que a Pátria houvesse chegado a uma inalterável riqueza material. Este ufanismo, contudo, vai declinando até a derrocada final em Alcácer Quibir, em 1578, com a destruição do exército português e morte de D. Sebastião. A literatura vai refletir a comoção épica gerada pelo progresso nas primeiras décadas do século XVI, mas reflete também, vez por outra, o desalento e a advertência, lúcidos perante a dúbia e provisória superioridade. O Renascimento português não representou, como nos países protestantes, uma revolução cultural tão extensa e profunda. Na facção protestante, as condições foram mais favoráveis à liberdade de pensamento e à difusão popular da cultura, graças à propagação da imprensa, veículo privilegiado pela Reforma Luterana. Em Portugal, como na Espanha e Itália, a Contra-Reforma Católica inaugura precocemente, um período de recalque ideológico e de repressão. Em 1547, o Santo Ofício visita casas e livrarias à procura de livros heréticos. Gil Vicente, Camões, Sá de Miranda, Antônio Ferreira, entre outros, foram considerados “agentes contra a Fé e os Costumes”. A Escola Clássica Renascentista Ainda que, já no fim da Idade Média, os autores da Antiguidade Clássica fossem conhecidos em Portugal, só se pode falar na existência de um estilo renascentista expressivo a partir de 1527, quando o poeta Sá de Miranda regressa da Itália, onde viveu entre 1520 e 1527, em contato com a literatura da Renascença italiana, com o dolce stil nuovo, e inicia a divulgação, em Portugal, das modalidades poéticas clássicas. Esse conjunto de procedimentos artísticos, que, em território luso, chamou-se medida nova, consistia: · Na utilização de versos decassílabos no lugar das redondilhas tradicionais. · Na predileção pelas formas fixas, inspiradas nos modelos latinos e italianos: o soneto, o terceto, a sextina, a oitava, a ode, a elegia, a canção, a écloga, a epístola, o epigrama, o epitalâmio; além do teatro clássico, com a tragédia grega e a comédia latina, regidas pela “lei das três unidades” (de tempo, de lugar e de ação). · Na assimilação da influência temática e formal de autores como Horácio, Virgílio, Ovídio, Plauto, Terêncio, Homero, Píndaro, Anacreonte, Sannazaro, Boccaccio, Boiardo, Torquato Tasso, Ariosto, Dante Alighieri, e Petrarca, além da releitura dos filósofos gregos Platão e Aristóteles, filtrados no pensamento de São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. Contudo, o espírito medieval não foi completamente abandonado. Por isso o Quinhentismo luso constitui uma época bifronte, pela coexistência e, não raro a interinfluência das duas formas de cultura: a medieval, popular, tradicional, materializada na medida velha, e a clássica, erudita, renascentista, que se expressa através da medida nova. Esse bifrontismo é lugar-comum entre os autores portugueses da época renascentista, cujas aparentes contradições só podem ser explicadas quando se tem em vista a ambivalência cultural da época. No caso português, acresce não ter havido um Renascimento típico, pois dada à prevalência do catolicismo e do poder eclesiástico, o racionalismo e a ideologia burguesa não vingaram de modo tão expressivo como em outros países. 

O MITO DA CAVERNA

O MITO DA CAVERNA

O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna,foi escrita pelo filósofo Platão, e encontra-se na obra intitulada A República (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.

Interpretação da alegoria
O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.
Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência, isto é, do conhecimento abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis (eikasia e pístis) e o domínio das idéias (diánoia e nóesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias - um mundo real e verdadeiro - e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo das coisas sensíveis - este mundo -, no grau da apreensão de imagens (eikasia), as quais são mutáveis, não são perfeitas como as coisas no mundo das idéias e, por isso, não são objetos suficientemente bons para gerar conhecimento perfeito...

Mito da caverna

Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.
Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vem de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, vá se movendo e avance na direção do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos que encontre e saia da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.
Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá, segundo Platão, sérios riscos - desde o simples ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras.
Platão não buscava as verdadeiras essências na simplesmente Phýsis, como buscavam Demócrito e seus seguidores. Sob a influência de Sócrates, ele buscava a essência das coisas para além do mundo sensível. E o personagem da caverna, que acaso se liberte, como Sócrates correria o risco de ser morto por expressar seu pensamento e querer mostrar um mundo totalmente diferente. Transpondo para a nossa realidade, é como se você acreditasse, desde que nasceu, que o mundo é de determinado modo, e então vem alguém e diz que quase tudo aquilo é falso, é parcial, e tenta te mostrar novos conceitos, totalmente diferentes. Foi justamente por razões como essa que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da Alegoria da Caverna pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se passassem, na existência humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades.

Os Lusíadas (1572)

DIVISÃO DA OBRA       O poema se organiza tradicionalmente em cinco partes:   1. Proposição (Canto I, Estrofes 1 a 3) Apresentação da matéria a ser cantada: os feitos dos navegadores portugueses, em especial os da esquadra de Vasco da Gama e a história do povo português. 2. Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5) O poeta invoca o auxílio das musas do rio Tejo, as Tágides, que irão inspirá-lo na composição da obra. 3. Dedicatória (Canto I, Estrofes 6 a 18) O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé católica e continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo. 4. Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144) A matéria do poema em si. A viagem de Vasco da Gama e as glórias da história heróica portuguesa. 5. Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156) Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua “voz rouca” não ser ouvida com mais atenção.

NARRAÇÃO        A narração consiste, portanto, na maior parte do poema. Inicia-se "In Media Res", ou seja, em plena ação. Vasco da Gama e sua frota se dirigem para o Cabo da Boa Esperança, com o intuito de alcançarem a Índia pelo mar. Auxiliados pelos deuses Vênus e Marte e perseguidos por Baco e Netuno, os heróis lusitanos passam por diversas aventuras, sempre comprovando seu valor e fazendo prevalecer sua fé cristã. Ao pararem em Melinde, ao atingirem Calicute, ou mesmo durante a viagem, os portugueses vão contando a história dos feitos heróicos de seu povo. Completada a viagem, são recompensados por Vênus com um momento de descanso e prazer na Ilha dos Amores, verdadeiro paraíso natural que em muito lembra a imagem que então se fazia do recém descoberto Brasil.     ESTRUTURA NARRATIVA        O poema se estrutura através de uma narrativa principal, que apresenta a viagem da armada de Vasco da Gama. A esse fio narrativo condutor é incorporada inicialmente a narração feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde, em que conta a história de Portugal até a sua própria viagem. Na voz do Gama, ouvem-se os feitos dos heróis portugueses anteriores a ele, como Dom Nuno Álvares Pereira, o caso de amor trágico de Inês de Castro, o relato de sua própria partida, com o irado e premonitório discurso do Velho do Restelo e o episódio do Gigante Adamastor, representação mítica do Cabo da Boa Esperança.      Em seguida são acrescentadas as narrativas feitas aos seus companheiros pelo marinheiro Veloso, que relata o episódio dos Doze da Inglaterra. Por fim, já na Índia, Paulo da Gama, irmão de Vasco, conta ainda outros feitos heróicos portugueses ao Catual de Calicute.      A estrutura narrativa do poema é composta, portanto, por três narrativas remetendo à história de Portugal, interligadas pela narração da viagem de Vasco da Gama.     ECLETISMO RELIGIOSO        O poema apresenta um ecletismo religioso bastante curioso. Mescla a mitologia greco-romana a um catolicismo fervoroso. Protegidos pelos deuses, os portugueses procuram impor aos infiéis mouros sua fé cristã. O português é visto por Camões como representante de toda a cultura ocidental, batendo-se contra o inimigo oriental, o árabe não-cristão. Todo esse fervor religioso não impede a utilização pelo poeta do erotismo de cunho pagão, como no episódio da Ilha dos Amores e seus defensores lusitanos são protegidos, ao longo de todo o poema, por uma deusa pagã, Vênus. É curioso notar que a imagem clássica do deus romano Baco (o Dioniso dos gregos), amigo do vinho e do desregramento, inimigo maior dos portugueses, é a de um ser de chifres e rabo. A mesma que foi utilizada pela igreja católica para representar o demônio.